Proibição da venda a descoberto pune a todos, especuladores ou não

>> 25 setembro 2008


SÃO PAULO - "Na atual situação do mercado, as vendas a descoberto podem levar as companhias do setor financeiro à ruína". A frase de Jochen Sanio, presidente do órgão fiscalizador do mercado financeiro alemão, o Bafin, sintetiza a visão dos reguladores ao redor do mundo acerca do "short-selling".

A caça aos "short-sellers" começa no dia 18 de setembro, com um comunicado da reguladora da City de Londres, a FSA, banindo este tipo de negócio com papéis do setor financeiro. No dia 19, a norte-americana SEC também adere à proibição. Em seguida, o mundo acompanha. [veja quadro abaixo]

"A mudança de regra foi feita com as melhores intenções, mas não pune somente os especuladores"
O novo bode expiatório dos reguladores foi eleito depois de diversas acusações de que operações de venda a descoberto ampliaram a queda das ações da HBOS, maior financiadora de hipotecas do Reino Unido, antes da sua venda para o Lloyds TSB, na bolsa de Londres na última semana.

Analistas apontam a expressiva alta dos papéis do setor financeiro no dia 19 como uma resposta à medida. A alta do índice FTSE 100 foi a maior desde 1987. A operação a descoberto acontece quando investidores vendem ações sem detê-las ou emprestadas, na esperança de que o preço recue. Caso isso ocorra, eles compram os papéis com um preço menor, os devolvem, e embolsam a diferença.

A culpa é de quem?
Na segunda-feira (23), entretanto, o setor financeiro voltou a cair forte nos EUA, sem a influência das operações descobertas. Na terça-feira (24), Londres acompanhou recuo. Apesar de vista pelos reguladores como um fator adicional de especulação, a venda a descoberto é também usada como mecanismo de proteção do investidor. "Há dois participantes, quem procura proteção e as pessoas que trabalham com risco", explica Juliano Lima Pinheiro, professor de Finanças do Ibmec-MG.

Para Augusto Vieira, gestor do fundo Neo Long & Short da Neo Investimentos, "a mudança de regra foi feita com as melhores intenções, mas não pune somente os especuladores". A questão levantada é a de que a aposta na queda dos papéis de uma determinada empresa não é, necessariamente, o fato causador da baixa. Ou seja, a venda a descoberto seria um sintoma, e não o causador da forte queda. Os fundamentos é que devem responder à pergunta.

"Ao longo do tempo, caso os bancos não melhorem os fundamentos, as ações vão continuar a cair, talvez em um ritmo menor. Com as vendas a descoberto, o ajuste seria mais rápido", adiciona o gestor da Neo.
Por: Gustavo Kahil
InfoMoney
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